Fui demitida por mostrar sintomas da minha deficiência.
Sou mulher, tenho 22 anos e sou autista nível 2 de suporte. Me comunico bem e consigo fazer a maioria das coisas diariamente, só preciso de direcionamento pois não sei ler entrelinhas sociais.
Fui contratada nessa empresa para atendimento ao público na recepção, mas constantemente eu era desviada a função e me sentia coagida a obedecer. Com o tempo, eu tive um burnout (cheguei a ir de ambulância para o hospital) e comecei a apresentar alguns sintomas estranhos, que foram caracterizados como ansiedade mesmo eu dizendo que tudo que eu estava sentindo era físico, mesmo quando não havia NADA me deixando ansiosa. Meu psiquiatra pediu remanejo de função e fui transferida para o administrativo interno.
Estava me saindo bem, tudo era adequado para mim. Em novembro, meus sintomas voltaram e eu tive algumas crises no serviço (três, no total). Depois da primeira crise, a enfermeira do trabalho chegou me chamando para uma entrevista no dia seguinte. Na entrevista, a mesma ficou me perguntando sobre meus cortes (estava com três no braço, acontece quando eu tenho crise de meltdown MUITO fortes porque eu tenho TOC junto, mas sempre tentei esconder com blusas e curativos para não deixando ninguém desconfortável, mas durante o resgate viram.), me perguntou se eu queria me matar, se eu havia feito algo no banheiro, se eu planejo fazer isso. E eu não sabia o que responder, nunca quis que meus problemas pessoais se misturassem com o serviço, um local onde eu sempre tentei me manter profissional e fechada.
Com o passar do tempo e dessas crises, no meio disso tudo, ainda era perguntado para mim se eu ainda fazia isso e como eu estava, se eu estava indo ao médico, se eu estava tomando meus medicamentos, E SEMPRE ENFIANDO DIVERSAS CONSULTAS PARA CIMA DE MIM. Eu já estava em tratamento com neurologista e terapia 2x na semana mas mesmo assim não parecia o suficiente para eles. Eu não podia demonstrar nenhum sintoma que eu era vista como problemática e todos começavam a me questionar se eu realmente estava me esforçando.
Após minha última ""crise"", onde eu fiquei passando mal desde o dia anterior com muito dor no corpo e vomitando, com o coração a 150bpm, eu acabei passando muito mal durante o expediente e fui ao hospital. Isso virou um terror na minha vida. A enfermeira do trabalho novamente me chamou e ficou fazendo perguntas invasivas que eu não conseguia negar ou me posicionar porque tenho muita ansiedade social, a mesma perguntou dos cortes novamente e perguntou sobre meu estado mental. Eu menti, é claro porque eu estava MUITO constrangida. Ninguém trataria um deficiente fisico dessa forma dentro da empresa, com essa atenção destinada à coação. A mesma, mesmo eu negando e falando que não havia necessidade porque não fazia nem uma semana que havia ido ao médico, me coagiu a ir no meu médico, contra a minha vontade. Eu aceitei com medo disso impactar no meu trabalho.
Na semana da consulta, eu fui trabalhar em uma unidade diferente e, por ser autista, tenho dificuldade com mudança mesmo que seja mudança de local. Eu fiquei MUITO focada em não me desregular e acabei me confundindo com os horários. A mesma me chama no whatsapp e fica BRAVA comigo, falando que custou a marcar essa consulta para mim e que eu "não posso fazer assim". Expliquei que pela mudança de ambiente eu estava muito focada e acabei me esquecendo, disse que eu nunca faria isso e nunca furaria um compromisso do tipo de propósito, que eu tenho dificuldades que são provenientes da minha deficiência.
Hoje, duas semanas depois, fui desligada da empresa. Motivo? Disseram que eu preciso focar no meu tratamento e que isso é "para meu bem". Disseram que eu não estou me cuidando e que estou deixando de me dedicar ao meu tratamento. Algo que era para ser sigiloso, entre eu e minha médica do trabalho, afetou minha imagem na empresa. Eu me dedico ao meu tratamento, eu vou ao médico e na terapia 2x por semana, medito e faço exercícios para me ajudar. Foi me dito, pela minha chefe, que eu até deixei de ir na consulta. Mesmo eu explicando tudo, detalhando que foi algo proveniente da minha condição, ninguém me escutou. Foi dito também que "até hoje vc não fez o exame", corta para eu esperando dois meses para conseguir um dia para fazer o exame porque ele é feito apenas uma vez no mês em outra cidade.
O que era para ser algo médico privado, meu, apenas meu, virou motivo de constrangimento. Agora eu to aqui, sem perspectiva de como vou me tratar pegando apenas seguro (meus remédios giram em torno de 600 reais por mês), totalmente constrangida e sem saber o que fazer.
Me cabe um processo? Me falaram para processar mas eu não sei se seria positivo.
Desde já, obrigada!